quarta-feira, 13 de abril de 2011

A olaia do adro de Sant´Ana


Abril!
Em plena Primavera, a olaia centenária do adro da Capela de Sant`Ana cobre-se de flores cor-de-rosa, perfumando o ar com um aroma adocicado e inibriante.
Contemplo a sua beleza todas as primaveras querendo captar esta imagem numa câmara, para sempre, antes que a derrubem, como fizeram à  companheira que cresceu com ela e ali esteve durante dezenas de anos.
Quando era criança e por ali brincava com os meus amigos, as duas olaias acolhiam-nos com a sua sombra e deixavam chover as suas florinhas tão doces para atapetar o chão.
No meio de risos e gargalhadas, ali brincávamos e até nos escondíamos nos seus troncos ocos, tal como Alices no País das Maravilhas. Era tudo tão simples e tão belo!
A passarada que pousava nos seus ramos acompanhava os nossos risos e gargalhadas com trinados, como numa sinfonia de Vivaldi...
Estava tudo em harmonia!
Aos Domingos, depois da Missa, com os nossos vestidos de bordado inglês, os soquetes brancos, sapatos de verniz e laços de seda no cabelo, o quadro tornava-se ainda mais idílico. Enquanto esperávamos os pais que aproveitavam o momento para porem a conversa em dia e depois de termos ido à sacristia pedir um «santinho» ao senhor padre, lá íamos nós correr e brincar à volta das nossas olaias, como bailarinas a dançar «O lago dos cisnes», de tão delicadas e inocentes que éramos.
Hoje a olaia está sozinha. Da criançada ouve os risos e as brincadeiras dos meninos do Jardim de Infância que ali está ao lado. Não sei se ela irá ser referência para algum deles, porque eles não podem entrar no tronco oco da olaia e fazer de conta que aquela é a sua casa. Não podem comer as flores doces da olaia porque podem ficar doentes. Não podem sair dos muros da escola poque os perigos estão sempre à espreita. Os meninos estão sempre a ser controlados, vigiados,... Enfim, não podem ser crianças e sentir o que há à sua volta... Resta -me a esperança que um deles rompa esta falta de liberdade, salte o muro e vá esconder-se no tronco da olaia, saborear as suas flores, colher um ramo para levar à mãe e, ao beijá-la a mãe lhe diga: «Que beijo tão doce e que flores tão lindas!» e o menino sussurre: «Colhi a doçura deste beijo e a beleza destas flores numa  árvore que há ao lado da minha escola. Agora aquela é a minha árvore e eu guardo nela os meus segredos ».
Depois, um dia, este menino já homem, poderá ter a sensibilidade para escrever um poema, eternizar a olaia numa tela, compor uma peça para o piano, inventar um perfume, criar um vestido de noiva inspirado nesta lembrança ou, simplesmente, plantar uma olaia no seu quintal para todas as primaveras a ver florir como eu vejo florir a minha, talvez por poucas mais primaveras,..

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