Finalmente chegou o outono!
Fizeram-se as colheitas e, já no conforto da minha casinha, reuniram-se as condições para uma noite de bruxas com todos os ingredientes: abóboras, romãs, ervas, castanhas, penumbra, gatos pretos, morcegos, ...e «Doçuras e travessuras».
Porque os dias já são curtos e as noites longas, foram providenciadas fontes de luz que não deixam, de todo, a escuridão tomar conta da noite. Velas, candeeiros de petróleo e candeias de azeite irão criar um ambiente propício às bruxas que estarão connosco nesta noite.
As poções estão todas prontas e nada impedirá as bruxas de fazerem os seus feitiços.
Os livros seculares dos feitiços ensinam a fazer os venenos mais mortíferos!
Todos os ingredientes estão organizados para qualquer feitiço que seja necessário preparar. Há «Sardaniscas de Conserva», «Dedos de Bruxa», «Pelos de Lobisomem», «Pó de Chulé», «Olhos de Gato», «Lágrimas de Fantasma», «Xixi de Morcego», «Patas de Aranha», «Venenos Mortíferos», «Sangue de Dragão», «Dentes de Vampiro», ...
«O Grande Livro dos Medos do Pequeno Rato» também estava lá.
O Vento Norte soprou umas rajadas fortes e as folhas dos plátanos atapetaram as ruas e os caminhos.
Uma rajada mais forte forçou as janelas da casa e trouxe este quadro de natureza morta.
Mas, as bruxas também chegaram com o Vento Norte e já largaram as vassouras.
O gato preto assustou-se com o Jack O'Lantern que trazia a sua abóbora para alumiar o caminho e afastar o diabo.
Os tachos e as ervas das bruxas exibem-se na janela da casa.
E a bruxa prepara já uma sopa de cobra e vermes no seu caldeirão.
Os ratos e as aranhas passeiam-se a seus pés.
Mas... alguém bate à porta gritando:
«Doçura ou Travessura?»
E o coração da bruxa amolece e, deixando as travessuras para outra altura, logo acorre para distribuir as «Doçuras».
Atravessando a escuridão que nos levará até ao seu laboratório, depressa chegaremos até junto da Bruxa mais velha.
Já no laboratório...
...a bruxa mais velha vai-se certificando de que não há nenhum ingrediente em falta.
Impacientemente, a bruxinha mais nova aguarda a tão esperada refeição...
A mesa já está posta. Serão servidos cérebros de gato preto, caganitas de cabra, ranheta de caracol, sardaniscas de conserva, leite coalhado, carne de dragão defumado... entre outras iguarias próprias de bruxas. Brindando, no final da noite, com Sangue de Vampiro.
Na penumbra, estudam-se as novas fórmulas que o Padre Fontes lhes enviou de Vilar de Perdizes.
Os vampiros acabaram de chegar e juntam-se à festa.
Olhos da escuridão
levantam voos nas asas de morcegos,
que saem dos jazigos feitos no chão,
onde epitáfios são presos por pregos,
guardados por fantasmas da solidão.
Aranhas dançam em suas teias,
despistando do olhar estático da coruja,
enquanto os sapos preparam suas ceias,
no abandonado lago de água suja.
Abóboras com velas iluminam a passagem
cobertas por antigos esqueletos,
enfeitados com orquídeas roxas de linhagem rara,
carregando pequenos amuletos.
Observam a casa negra no alto da floresta,
mal assombrada e misteriosa,
pois parece que alguém prepara uma festa,
enquanto sai da chaminé uma fumaça cheirosa.
A bruxa abre a porta para a Lua Cheia,
com chapéu de mago e verruga na cara,
para iluminar o caldeirão de ferro
que prepara um feitiço secreto para a meia noite e meia.
Ela canta uma cantiga antiga,
para um corvo sentado em sua janela:
-Hey! Hey! Halloween siga!
Faça este feitiço de canela!
Quero ser uma linda donzela!
Tira essa verruga de mim!
Helen de Rose